Nos últimos 10 anos a universidade brasileira viu um crescimento vertiginoso na atividade de inovação, que em conjunto com melhorias significativas na estrutura de seus Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs – instituídos nas instituições públicas pela Lei 10.973/2004), resultou em um crescimento de 5x no volume de tecnologias protegidas anualmente nos últimos 10 anos. O próximo passo, a ser impulsionado pelo marco legal da inovação, é converter esse capital tecnológico distribuído nas diversas áreas do conhecimento em geração de receita, o que ainda é verificado em um número limitado de instituições.
A atuação dos NITs tem se mostrado fundamental para tal incremento, auxiliando que a intensa atividade inventiva da universidade brasileira tenha sua titularidade protegida, o primeiro passo para assegurar os direitos sobre a exploração comercial de esforço inventivo (Figura 1). Isso demonstra que as políticas de gestão da inovação estão no caminho correto.
Importante destacar, no entanto, que o total de mais de 7.000 pedidos de patentes da universidade brasileira no período ainda é muito inferior à atividade da universidade em outros países. Tomando-se apenas o exemplo da Universidade da Califórnia (EUA), a produção de patentes chegou a cerca de 30.000 no mesmo período de 10 anos, sendo que 357 delas foram também submetidas ao INPI brasileiro, o que a colocaria no 5º lugar no ranking de instituições no Brasil.No topo do ranking de principais instituições brasileiras a proteger tecnologias desenvolvidas no ambiente universitário figuram UFMG, USP, UNICAMP, UFRJ e UFRGS. Em um universo de cerca de 100 universidades com atividade patentária, estas 5 respondem por 70% do que foi protegido. Apesar da concentração na região Sudeste e Sul, há uma tendência recente de crescimento no NE, onde a UFPB e UFPE tiveram crescimento substancial, partindo de cerca de 10 patentes em 2010 para o portfólio atual de cerca de 200.
Sobre as tecnologias em si, observa-se que a inovação no Brasil é bem diversificada, tratando de temas diversos e de relevância internacional. Dito isso, ao analisar as principais áreas de pesquisa que geraram pedidos de patentes observamos uma concentração na área médica, veterinária e agrícola, que refletem o dinamismo da indústria de farma e do agronegócio nacional.
Um importante próximo passo para a universidade é a expansão destes indicadores de geração de receita, potencialmente ancorada na maior atividade de oferta tecnológica no mercado nacional. Igualmente importante é buscar ampliar a penetração no mercado internacional, dado que a titularidade sobre as invenções é global. A universidade brasileira apresenta iniciativas interessantes neste aspecto de globalização, mas há potencial para substancial crescimento. As 3 instituições com mais geração de tecnologias protegidas, por exemplo, buscam proteção em outras jurisdições a uma taxa de 20% dos pedidos depositados no Brasil. No entanto, a média de todas as instituições é de 10%, limitando o potencial de exploração econômica das tecnologias, que ficam em domínio público em outras jurisdições. Tal fato decorre provavelmente dos desafios de custeio, da dificuldade de orçamentação devido a variações cambiais e da tramitação feita em outras línguas, entre outros.
Outra oportunidade é o estabelecimento de mais contratos de transferência de tecnologia em escala global, o que parece ter sido explorado através de raros contratos – apenas um contrato deste tipo foi registrado no INPI4 nos últimos 10 anos. O desafio aqui é mais localizado no estabelecimento de relações entre universidade brasileira-empresa no exterior. Tais relações parecem ser bem mais intensas no sentido reverso, entre empresa nacional-universidade do exterior, e talvez aqui boas práticas possam ser absorvidas por nossas instituições. Como exemplo, somente a EMBRAER registrou no INPI mais de 70 contratos de transferência de tecnologia4 com universidades estrangeiras nos últimos 10 anos.O potencial de geração de valor com esta expansão da exploração econômica deste ativo tecnológico é elevado. Novamente tomando como base a Universidade da California, que tem um portfólio de patentes ativas equiparável à totalidade da universidade brasileira, aproximadamente 10.000 patentes ativas5, nacional e internacionalmente, a geração de receita atinge USD 104 milhões por ano em royalties/licenciamentos. Caso a universidade brasileira consiga atingir eficiência similar, a nova geração de receita representaria um crescimento de 10x em relação ao gerado hoje.
Referencias:
1 Busca no The Lens (https://link.lens.org/bsSPmwsYknj)
2 Relatório de Atividades AUSPIN
3 Relatório de Atividades de 2019 da UNICAMP
4 INPI – www.gov.br/inpi/pt-br
5 University of California, Infocenter (https://www.universityofcalifornia.edu/infocenter/uc-inventions-glance)